O tempo arranca cada fragmento de sanidade da alma, cada vez que por aqui passa.

sábado, 22 de maio de 2010

A inveja é desgraça!

Oh miúda da esquina
Não queiras tu ser o outro
Nem ser dona do que ele tem
Pois a inveja é desgraça
Do coitado a quem vem.

Dizias tu ser o mundo em carne viva
De peito erguido e bandeira na mão
Mas despes a alma... é só ferida
Lúcida no espelho da ilusão.

Pensas que já sabes amar e beijar
Mas teus lábios são secos como o sal
E na controvérsia deste poema
Já lhe tentaste extrair o mal.

Agora vem ler vestida de preto
E encontra em minhas palavras, o medo
Rouba me a oração de carvão
Que é fogo que arde no rochedo
A que tu chamas coração.

Mas digo sem a mágoa que de mim sumiu:
Não há quem sinta, como este sentiu!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Velho silêncio

Não sei porque não acreditar
Quando me dizes que o céu tem cor
Mas o velho disse-me para duvidar
Sobre o que dizes tu, ser amor...

Um dia na berma do rio
Lá estava o velho sentado
Num banco de madeira vazio
Com o coração nas mãos tragado.

Disse-me que o passar do tempo
Não tinha secado de mim o amor sentido
E que tinha saudades do momento
De lábios de sangue em meu ouvido.

O silêncio ouve o lamento sozinho
Mas não chega o que a palavra mostra
É agora altura de seguir este caminho?
Quero eu saber esta resposta...?

Oh cruel dúvida, oh depurada
Tens tu peito vazio de quente emoção
Mas no fundo desta alma condenada
Era sabido que o velho tinha razão...
Dedicado à primeira pessoa que o leu,
depois de ter sido escrito.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Hoje vou mudar a minha vida

Cansei-me de tapar buracos aqui e ali para que não deixasse ninguém com feridas. Fartei-me de fingir ser alguém que não sou, na esperança de agradar as pessoas ou ter resultados com isso. Não vou lutar mais por coisas que sei que não vão ter futuro, por mais que tenham sido boas no passado.
Vou aprender a perdoar, a admitir erros e a errar mais vezes também. Preciso de continuar a cair para me levantar cada vez mais forte e começar a olhar as coisas de outra maneira. Ainda mais do que antes, acho que devemos escolher os nossos amigos e conta-los a todos pelos dedos. Não vou dar valor a amizades temporárias e deixarei de cumprimentar pessoas na rua só porque fica mal passar e não dizer nada.
Estive uns tempos distantes por não saber se me identificava comigo mesmo, mas hoje todas as respostas às minhas perguntas surgiram e não ignorarei nenhuma, nem deixarei de ser quem sou porque posso perder com isso. Acho que todos merecemos um tempo só para nós mesmos, e ser tratados como gente. Ninguém merece resignar-se num canto e passar os dias fechado para não ter que sair à rua e ter que lidar com aquilo que as outras pessoas dizem e pensam.
Não vou esperar que o amanhã chegue para tomar decisões importantes e por mais bonito que digam que o orgulho é, é algo que tem de ficar sempre de parte se queremos ser felizes. As pessoas preocupam-se demasiado com coisas insignificantes por causa disso deixam de dar valor aquilo que realmente merece ser valorado.
A nossa vida é como um balão cheio de água; de vez em quando alguém aparece e deixa um buraco por onde um jacto de água teima em esvaziar o balão. Então, nós, seres humanos (ir)racionais esticamos os braços e tapamos aquele buraco com os nossos dedos. Depois aparece outro, e mais outro. E então vem a dor... Não será melhor fazer dela uma pedra?
Afinal, acho que hoje não vou mudar a minha vida. Vou apenas começar a vivê-la da maneira que deve ser vivida. Algo que nunca fiz até agora. Não vou mudar a pessoa que sou, vou apenas ser eu mesmo, algo que já não faço à muito tempo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ninguém me ouviu


Hoje caí para o fundo
Como que um cão a largar o osso
Entrei neste submundo
Por me ter debruçado no poço.

Aqui onde só reina a morte
Almas perdidas e gritos vazios
Goelas tiradas por corte
Corpos a boiar em rios.

Neste sítio sem nome e morada
Onde ninguém se conhece, ninguém fala
Pede por socorro a desconhecida magoada
E ninguém ouve, como quem cala.

Chamei por ajuda e fiquei à espera
Estiquei a mão e ninguém agarrou
E naquela agua onde dorme a fera
Só um único homem não chorou!

O barqueiro das aguas ao além
Trancou o portão a cadeado
Mas como? Porquê? Por quem?
Porque me deixa aqui naufragado?

Se seguisse de barco teria um caminho
Não ficava a espera no chão frio
Mas no fundo de mim encontrei a luz, sozinho
E segui-a abandonando o rio.

Aprendi, que quando não me vir como alguém
Me cabe a mim escolher o caminho, não o do meu amigo
Que não posso contar com ninguém
Se não comigo.

sábado, 8 de maio de 2010

Apagam-se as luzes da cidade


Apagam-se as luzes da cidade
Deixando despidas de cor as ruas
E nesta escura e negra realidade
Ficam em chama as almas cruas.

Trancam se as portas e os portões.
Um manto de escuridão cobre o céu
E naquela rua aos encontrões
Passa uma sombra como um véu.

Ninguém sabe o seu nome
Ninguém sabe de onde ele vem
Somente ele sabe o que quer
Como ninguém!

Apagam-se as luzes da cidade
Mas aquele homem segue pela rua
Com o peito cheio de verdade
Seguindo somente a luz da lua.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Passeio da rua


Hoje encontrei na berma do passeio
Um cão abandonado
Que arfava em cada devaneio
Deste ser envergonhado.

Sentei-me ao lado dele,
E enquanto me olhava de esboço
Dei-lhe de comer um pão
Que lhe soube como um osso.

Agradeceu-me com um olhar
De alguém que à dias não come
Ficou comigo até a noite chegar
Só por lhe ter tirado a fome.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Vagabundo de alma crua

Olha
Obrigado!

Por teres desenterrado o morto
Que no portão deixou urtigas
Espera-te lá o cão solto
Em cada rua que sigas!

Ele tem maças podres na macieira
A quem já as sereias cantaram o seu fado
E caso a mentira causasse cegueira
Tinha o céu da cor do pecado!

Sem um tostão no bolso rasgado
Difama o mundo que o espalma
Há que ter pena do coitado
De tão imunda alma...